Paixão pelo Reino e Opção pelos pobres

Irmã Maria Vieira Feitoza.
Organizadora
Papa pede compromisso com a pastoral vocacional da vida consagrada.
Esta “nunca poderá faltar nem morrer na Igreja”, diz a bispos brasileiros. Roma, 05/11/2010.
Segundo Bento XVI, assim entendida, “a formação já não é apenas um tempo pedagógico de preparação para os votos, mas representa um modo teológico de pensar a própria vida consagradas, que em si mesma é uma formação jamais terminada...”.

Encarnação e Seguimento
A Expressão “de olhos fixos em Jesus” no relato da apresentação de Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-30,) mais do que uma constatação é uma provocação. Todos na sinagoga olhavam-no, atentos.(Cf. V. 20), quando, “então, começou a dizer-lhes:” Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabaste de ouvir”(V.21) E  o que Ouviram? Hoje  a VRC fascina os/as jovens pelo encanto, a paixão pelo seguimento na sua Radicalidade, olhar atento para Jesus?  As jovens que batem em nossas portas ao longo processo  formativo se apaixonam pelo seguimento na sua radicalidade ?ou  pelo que fazemos? A missão decorre da paixão pelo Reino, pela consagração . Dito isto, para  onde estão direcionados nossos olhares neste momento como VRC?
Mas, então, o que a VRC tem a oferecer à Igreja e á sociedade? Apenas escolas de qualidade? Paróquias bem organizadas? Trabalho social qualificado? Obras a serviço da manutenção da estrutura eclesial e social?Missionários Ad gentes bem preparados? Obras Sociais que superem a incapacidade dos poderes públicos? A VRC poderá oferecer muitas coisas úteis para a sociedade. Mas, que significa levar a sociedade à mensagem do Reino tal como ele é sem justificativas, ambigüidades em coerência com a proposta do seguimento na Radicalidade. ? A VRC é convocada a seguir Jesus de Nazaré. A VRC é um DOM para se tornar visível. Mas que tipo de visibilidade?
Olhar para Jesus provoca, convoca, exige descer do muro e fazer opção. A reação dos primeiros ouvintes foi surpreendente: “Ao ouvirem estas palavras, na sinagoga, todos ficaram furiosos”. Levantaram-se e o expulsaram da cidade [...] ( V. 28-29). Mas, esse movimento livre e firme de Jesus torna-se um paradigma da VRC chamada a ir atrás deste Jesus que teve sua mensagem rejeitada, foi expulso da sinagoga com violência, mas “Prosseguiu seu caminho” (v. 30).


Aspectos fundamentais do seguimento para a VRC:

*   Com Jesus, o Reino de Deus entrou em ação (Mt 4,17)

 Jesus dedicou sua vida em função do Reino consagrado pelo Pai no Espírito. Não existe Jesus sem Reino. Evangelho e Reino de Deus coincidem (Mt 4,23; 9,35; Lc 8,1) A pessoa de Jesus, as obras, as palavras, o estilo de vida, sua postura traduzem o Evangelho do Reino. Ele não fala de Deus em si, mas da sua relação com a humanidade. Reino e vida estão vinculados por uma mesma paixão. Jesus um apaixonado pelo Reino e pela vida. O Reino é uma realidade dinâmica, relacional, uma ação. O final do relato de Lucas é ilustrativo: A realidade do Reino provoca entusiasmo em alguns e rejeição total em outros. (Cf. v. 28-30) È Boa-Notícia para uns e ameaçapara outros. A paixão pelo Reino nos remete ao Mistério Pascal. È uma paixão com lucidez. Jesus vai até o fim e não deixa dúvidas de mostrar de que lado Deus está.
 
* “[...] Ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres [...]” (Lc 4,18).

No anúncio do programa de Jesus na sinagoga, o Reino de Deus e os pobres aparecem como duas realidades vinculantes, pois deles é o Reino (Mt 5, 1-12;  Mc 10,21-25; Lc 6,20). Deus é o Deus do Reino e é o Deus que, ao estabelecer o Reino, porá fim aos sofrimentos dos pobres e á falsa satisfação dos ricos. O Reino inspira uma nova orientação para os rumos da história. Tudo passa a ser reinterpretado e vivido á luz do Reino, em que a práxis se rege pelo que o pobre reclama, pelo clamor dos aflitos. Se é certo que a mensagem do Reino é central no evangelho, também é certa a centralidade do confronto: Reino, opção pelos pobres e conflito estão inter-relacionados.

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu” (Lc 4,18).

Ao entregar sua vida em função do Reino consagrado pelo Pai no espírito, Jesus interpreta suas ações a favor dos pobres como atuação do Espírito de Deus que mostra a irrupção do Reino na história. A Paixão pelo Reino é caminhada e é graça. Sem este espírito que vem do Pai e do Filho não há como manter a paixão pelo Reino e a fidelidade á convocação de Jesus. Prática sem Espírito nos acovarda, esvazia o sentido pleno do Evangelho, confunde as decisões, obscurece os objetivos. Por outro lado, Espírito sem prática do Reino gera uma vida consagrada sem paixão, sem compromisso, e distante do ideal evangélico. È o Espírito que dinamiza a vida cristã. (Gl 5,25) Jesus revela de forma plena o Reinocentrismo do Pai.

*  É preciso  manter os olhos fixos em Jesus.

A VRC viveu nas últimas décadas momentos de grande vitalidade e paixão missionária pelo Reino. Religiosos/as se somaram á “nuvem de testemunhas” do evangelho (Hb 12,1) Hoje, porém, salvo exceções, se percebe que o compromisso perdeu dinamismo e intensidade. A pergunta que São Paulo dirigiu aos gálatas pode servir para nós: ”corríeis tão bem! Quem vos pôs obstáculos para não obedecerdes á verdade?” (Gl 5,7). A VRC não deveria ter continuado “na mesma direção”A meta faz parte da identidade da VRC. Será que a VRC não estaria cedendo ao monopólio do pensamento conservador e se acomodando a um discurso que a incapacita para entender o Evangelho? O fato é que sempre que os cristãos se afastaram do Evangelho acabaram gerando crises na credibilidade da Igreja. A paixão pelo Reino nasce e se alimenta da força daquele Espírito que envolveu a pessoa de Jesus e o consagrou. As comunidades religiosas deveriam se parecer como um lugar atraente da presença do Espírito e um sinal do amor de Deus para o mundo. (1ª Cor 12,11) (Fl 3,16)? Para onde o olhar foi se desviando? Não faz sentido e não tem razão de existir uma VRC que tem medo de se aproximar da meta e da causa de Jesus.
Deixar os pobres em segundo plano empobrece profundamente a VRC. Como a VRC participa das lutas dos pobres? Até que ponto a formação leva as nossas jovens a esse compromisso com a causa do Pobre? Deus os toma em sua defesa e os ama. Na verdade não existe autêntica VRC deixando os pobres em segundo plano. Afinal, quem são os pobres para a VRC hoje? A que tipo de coisas a VRC está resignada e o que a torna inofensiva aos poderes vigentes? Para onde estão direcionadas suas principais forças intelectuais, sociais, econômicas? Diante desta civilização da riqueza e do individualismo, a VRC aposta numa civilização da austeridade, da simplicidade?
É fundamental que a VRC mantenha o foco naquilo que realmente importa, para que as energias não sejam desperdiçadas em investimentos estranhos ao evangelho, em práticas opostas á sua natureza profética, e que, portanto, não são Evangelho, Boa Notícia para os pobres. Tal Radicalidade se manifesta na exigência de não olhar para trás (cf. Lc 9,62), rompendo com a lógica caduca e irracional que orienta os poderes deste mundo. Para isso é preciso ter convicção firme e fé inabalável no Reino. Caso contrário, a VRC continuará patinando em declarações de intenções que não representa avanços no compromisso com os pobres, e o de “olhos fixos em Jesus” será um lema a mais para os arquivos. Desviar o olhar do Reino tal como proclamado por Jesus teria como conseqüência não só a instalação definitiva do estilo light (Medíocre?) no seio da VRC, como também a perda de sua identidade originária, dado que a mesma tem por regra suprema o seguimento de Jesus Cristo proposto no Evangelho. Se a VRC se entende a partir do seguimento de Jesus focado no Evangelho do Reino, aquilo que prejudica, desvia ou perturba a fidelidade ao Reino e o amor aos pobres não deveria ser relativizado ou mesmo descartado?

E por último, Jesus pôs em movimento uma prática diferente porque era diferente. A prática de Jesus deveria impactar diretamente na VRC: As relações, a organização comunitária, as opções apostólicas etc. Qual é o Diferencial que a VRC é convocada a manifestar ao mundo hoje? Ser fiel é ser diferente e fazer diferente hoje como Jesus fez no seu tempo. Assim, o cartão de apresentação da VRC poderá se assemelhar um pouquinho mais ao de Jesus.






NOSSOS SANTOS


        Os santos vivem o sonho de Deus a respeito de toda a humanidade. Fomos criados para ser santos, imaculados, irrepreensíveis no amor. Nos santos a graça é vitoriosa e o pecado é derrotado. Neles acontece a vivência do evangelho. Eles são o evangelho vivo. Santidade é seguimento de Jesus.
         Os santos não gostam de falar de si mesmos. Eles estão focados e envolvidos por Deus, pela graça. Colocam Deus e os irmãos em primeiro lugar. Todos os santos vivem o primeiro mandamento. Eles foram divinizados, purificados, transformados, santificados pela graça.
        O foco, o centro, o núcleo da vida dos santos é a experiência de Deus, a adoração, a mística e a fé inabalável. Eles nos arrastam para Deus. Tudo o que admiramos nos santos é fruto da graça divina, é vitória da fé. Nenhum santo atrai as pessoas para si, mas, para o amor de Deus.
Antes de tudo, os santos sentem-se pecadores e fazem penitências, sacrifícios, reparações pelos seus pecados. Eles não se colocam acima dos outros. Pelo contrário, os santos manifestam grande compreensão, misericórdia e bondade para com os pecadores. Eles abominam o pecado e abraçam o pecador.
Os santos são admiráveis no amor fraterno. Eles sabem perdoar, compreender, ajudar, promover e servir os outros. Os pobres, os pequenos, os sofredores, são seus prediletos. Amam o próximo de todo coração, com gestos concretos e em verdade. Eles vivem a fraternidade em profundidade.
Na verdade os santos movem o mundo. Eles fascinam os povos e nações porque fazem e realizam o que todos nós sonhamos e desejamos ser e fazer. Eles alcançam aquele ideal que nós gostaríamos de alcançar. Os santos são muito humanos, sua santificação e santidade os transformam em pessoas de bom coração, solidariedade, paciência, compaixão.
Nossa primeira atitude diante dos santos é aprender com eles a amar a Deus e o próximo, segui-los no caminho da fé, da conversão, do sacrifício e da verdadeira alegria. Antes de pedirmos sua proteção e ajuda, precisamos imitá-los e alcançar a nossa santificação. Como nós devemos ser? Os santos mostram o caminho e os meios.
Os santos comprovam que a oração, a Palavra de Deus, os sacramentos especialmente a Eucaristia, Maria e a cruz são grandes meios de santificação. Para eles as provações e as humilhações são graças, bênçãos e favores divinos. Fazem a experiência do seu nada,esvaziam-se de si mesmos e se tornam repletos da graça de Deus.
Os santos são exigentes consigo e compreensivos com os outros. São testemunhas de grandes sofrimentos e grandes alegrias. Eles têm os pés na terra, o coração nos irmãos e os olhos fitos no céu. O santo vive de esperança e confia na glória da vida eterna. O céu e a esperança na visão de Deus são o segredo de sua vida.
Possa os santos atrair-nos para Cristo Jesus, animar-nos no caminho do evangelho, ajudar-nos a servir os irmãos de todo coração.
Todos os santos e santas, rogai por nós. A maior tristeza que nos invade e a de não sermos santos, mas, nossa maior alegria e a santidade.
Os santos refletem a beleza de Deus e alcançam o ideal do verdadeiro humanismo. Quanto mais santo é alguém, tanto mais humano. Quem deseja ser melhor do que é e para isso se esforça, está no caminho da santidade. Ser santo não é ser perfeito, mas, lutar constantemente contra o mal e incansavelmente recomeçar. Os santos são rígidos consigo mesmos e contra o pecado, mas, profundamente misericordiosos com os pecadores. Tão próxima de nós está à santidade a tal ponto que o fogão, a vassoura, o bisturi, o trator, o volante são altares de santificação. Louvemos a Deus santo e amemos a Igreja santa cujo pecado nunca a destruirá. Quanta alegria na santidade.  

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina

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