EXPERIÊNCIA DA CARNE - EXPERIENCIA DE DEUS

Quem fez estas experiências de modo original foi Santo Agostinho. Ele as relata no seu livro “Os Convertidos”. São poucos os que querem ir contra a corrente do costume e da moda escreve Agostinho. No mundo antigo as fraquezas humanas eram um culto aos deuses para que os vícios não parecessem vícios e quem as praticasse estaria agradando aos deuses. Quando estamos no pecado as pessoas gritam “bem, muito bem” para que ninguém se envergonhe de ser pecador e de correr atrás do barro.
            Sujei-me e embruteci-me, diz Agostinho, para satisfazer meus desejos e agradar aos homens. Andava obcecado pela carne e não sabia mais o que era a verdadeira amizade. Abrasado por essa obsessão, fervia no desejo de fornicar, cheio de soberba, agitação, nervosismo e inquietação. Eu era um fervedouro de paixões, entregava-me ao furor da satisfação sexual, mas, não pude evitar a dor e a amargura.
            Tinha vergonha de parecer menos pecador e lascivio que meus companheiros. Queria ser louvado e admirado por minhas torpezas. Inventava cenas de orgias e mentia para não parecer inocente e casto. Refocilava na lama como se fosse precioso perfume. Descobri, diz Agostinho, que esses desejos impuros não eram senão, fome de Deus. Mesmo assim, atei-me às pesadas correntes do prazer que depois acoitam como varas incandescentes feitas de ciúme, de suspeitas, ódios, rixas e temores.
            Deleitei-me nas torpezas sensuais, revolvi-me no abismo da lama, nas trevas do erro e tornei-me um tumor abrasador, um chaga que me apodreceria por dentro, tudo em nome de uma fugitiva liberdade. Descobri as Escrituras Sagradas, mas na minha soberba ria-me dos patriarcas e profetas, mas quem ria-se de mim era Deus. Fui seduzido e sedutor, enganado e enganador, soberbo na ação, supersticioso na religião e vazio de coração. Buscava popularidade, aplauso e êxito, fazendo o que diziam os antigos: “a necessidade de pecar vem do céu”.
            Tornava-me cada vez mais miserável e Deus se aproximava cada vez mais de mim. Sua mão estava próxima, prestes a arrancar-me do pântano dos meus vícios e a lavar-me. Como Deus é excelso nas alturas e profundo nos abismos. Ele não se afasta de nós. Queria ir para Deus mas tinha medo de libertar-me de toda a minha equipagem de barro. Deus bom e misericordioso pôs seus olhos no meu abismo de morte. Ele é o descanso de todas as fadigas. Deus é radiante e atrai. Sua graça torna forte aquele que é fraco e responde a todos mas nem todos o escutam e entendem. Todos perguntam o que querem, mas nem todos ouvem o que não querem ou o que precisam ouvir. Toda minha esperança se apóia na grande misericórdia de Deus.
            A carne não basta para saciar a sede de amor e de Deus. Eu ia pelo amplo e fácil caminho do mundo, mas , Deus não me abandonava. Eu pensava que não podia ser feliz sem os deleites carnais. Quão tortuosas e incômodos são os caminhos sem Deus. A alma quer descansar nas coisas que ama mas eu amava o que foge, a beleza que murcha e caminhava para o abismo. Deus é a eterna verdade, verdadeiro amor, amada eternidade. Por Ele eu suspirava noite e dia porque estava na palma de sua mão. Mesmo assim, meu costume carnal fazia-me cair no chão. Eu pensava que seria muito infeliz sem o amor das mulheres e desconhecia o remédio do amor de Deus que cura esta enfermidade. Eu continuava acorrentado à mortífera suavidade do prazer da carne e ia arrastando as minhas cadeias.
            Deus concede a castidade para quem grita aos seus ouvidos, implora com gemidos e Nele confia. Ninguém é casto se Deus não lho concede. Ele concedeu-me a graça de ver minha cara. Vi como era horrível, sujo, manchado e coberto de chagas, porém Deus movia-me gritando no meu interior e me atraindo a Si.

Dom Orlando Brandes

Tudo isso eu já fiz!

No encontro com Jesus o jovem do Evangelho pergunta ao Senhor: "Mestre, o que preciso fazer de bom para conseguir a vida eterna?" (Mateus 19,16). Esta pergunta que pode ser traduzida por outras parecidas: "Mestre, o que preciso fazer para que minha vida tenha sentido pleno?", "Mestre, o que preciso fazer para ser feliz?"

O Senhor responde ao jovem: "ama ao teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 19,19). Aqui Jesus propõe ao jovem viver amando o próximo, gastar sua vida em favor dos demais. Não podemos esquecer que os jovens têm grandes ideais: a paz, a justiça para todos, a não discriminação por causa do sexo, da raça, religião ou nacionalidade. Corrigir os abusos dos poderosos sobre os pobres...

Também você, como o jovem rico, pode responder um tanto presunçosamente: "Tudo isso eu já fiz. O que me falta?" (Mateus 19,20). O Senhor lhe responde: "Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!" (Mateus 19,21). Repito vem e segue-me! Não bastar renunciar a tudo, mas tem que segui-lo.

Não duvide: O Senhor tem uma proposta, um projeto de vida para cada um de nós. E por isso compartilho com vocês o meu testemunho veja: Aos 15 anos de idade deixei a casa dos meus pais, no desejo de fazer um caminho para me consagrar a Deus como Discípula e colaborar na sua Missão de amor como religiosa.

Ele nos chama a segui-Lo por um caminho determinado. Quer que a vocação universal ao amor seja desenvolvida por nós de forma concreta e singular. Para o jovem do Evangelho, Jesus tinha previsto uma vocação magnífica: tornar-se discípulo, acompanhá-Lo em Suas peregrinações pelas aldeias e cidades, compartilhar Seu estilo de vida... Também para cada um de nós o Senhor antecipa uma vocação magnífica: eu os animo a descobri-la. O Senhor pode pedir a vocês a entrega de coração na vida matrimonial, para que construam uma família, eduquem seus filhos e sejam construtores de uma sociedade livre, solidária, responsável.

E pode lhes pedir também que sigam de outro modo. Sim: pode lhes pedir a entrega generosa do coração pela causa do Evangelho. Assim o fez com o jovem do relato que escutamos: Jesus o chama a Seu seguimento pessoal, mas antes tem de renunciar a tudo que o prende neste mundo.

O jovem é rico e não pode viver o mandamento do amor, porque está preso aos bens e às seduções do mundo. Ele deve vender tudo a fim de estar mais livre para o seguimento do Senhor. E a isto, o jovem, não está disposto. Suas muitas posses são como correntes que o impedem de chegar a ser, quem sabe, um apóstolo entre os doze.

Por isso, o jovem foi embora triste. Sua tristeza é expressão de seu amor a si mesmo e ao mundo, acima do amor a Deus e aos demais.

Sua resposta anterior, "tudo isto eu já fiz", se revela agora como falsa. Não é capaz de amar plenamente e vai embora para casa.

Também vocês, queridos jovens, podem estar presos a bens e seduções deste mundo, que os atalha de seguir totalmente a Jesus Cristo.

O mundo atual, com seus enormes atrativos e sensualidade, lhes oferecem, muitas vezes, armadilhas que os impedem de amar com a radicalidade o que pede o Senhor.

Muitos (as) amigos (as) de vocês estão presos (as) nas redes da indiferença religiosa, do consumismo, do hedonismo, do álcool, dos desajustes sexuais, dos paraísos artificiais da droga; em suma, dos ídolos do mundo. Coragem e muita confiança em Deus para não se levar pelas falsas seguranças e se deixar alienar por facilidades e bem estar que não responde ao sonho e ao desejo de nosso Deus, que é vida plena para todos.



Siga a Jesus Cristo, como Ele pede que O siga. Somente esse seguimento pode dar plenitude à sua vida. Perguntemos com ânimo generoso: "Como posso seguir ao Senhor?"

O seguimento de Jesus consiste em lutar com alegria e paciência para se identificar com Jesus Cristo configurando-nos com sua vida e missão. Para isso, temos que exercitarmo-nos no diálogo íntimo com Jesus e, por meio d'Ele, com o Pai. Abra seu coração a Deus. Deixe surpreender por Cristo. Dêe-Lhe o direito de lhes falar...

O seguimento de Jesus exige escuta do Seu chamado para que seja testemunha valente e corajosa do Evangelho no mundo.

Em resumo: conhecer a Cristo, amá-Lo e segui-Lo.

Para concluir, lembro das palavras do papa Bento XVII, na jornada Mundial da Juventude “Queridos jovens, a felicidade que buscam a felicidade que têm o direito de saborear, tem um nome, tem um rosto: Jesus de Nazaré!



Fonte: Texto adaptado da Homilia do Arcebispo de Valencia, na Santa missa de boas-vindas ao voluntariado do V Encontro Mundial das Famílias (02/07/2006)

Tradução: cancaonova.com (Monsenhor Agustín García-Gasco 05/07/2006)



Ir. Clarice Monteiro Anjos (ICP)

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA

Queridos irmãos e irmãs, todos os anos, por ocasião da Quaresma, a Igreja convida-nos a uma revisão sincera da nossa vida á luz dos ensinamentos evangélicos. Este ano desejaria propor-vos algumas reflexões sobre o tema vasto da justiça, partindo da afirmação Paulina: A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (cfr Rom 3,21 – 22 ).

Justiça: “dare cuique suum”

Detenho-me em primeiro lugar sobre o significado da palavra “justiça” que na linguagem comum implica “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”, segundo a conhecida expressão de Ulpiano, jurista romana do século III. Porém, na realidade, tal definição clássica não precisa em que é que consiste aquele “suo” que se deve assegurar a cada um. Aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais intimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado á sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais – no fim de contas o próprio Jesus se preocupou com a cura dos doentes, em matar a fome das multidões que o seguiam e certamente condena a indiferença que também hoje condena centenas de milhões de seres humanos á morte por falta de alimentos, de água e de medicamentos - , mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o “suo” que lhe é devido. Como e mais do que o pão ele de fato precisa de Deus. Nora Santo Agostinho: se “ a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu…não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21).

De onde vem a injustiça?

O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus, que se inserem no debate de então acerca do que é puro e impuro: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Para além da questão imediata relativo ao alimento, podemos entrever nas reações dos fariseus uma tentação permanente do homem: individuar a origem do mal numa causa exterior. Muitas das ideologias modernas, a bem ver, têm este pressuposto: visto que a injustiça vem “de fora”, para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua atuação: Esta maneira de pensar - admoesta Jesus – é ingênua e míope. A injustiça, fruto do mal, não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. Reconhece-o com amargura o Salmista: ”Eis que eu nasci na culpa, e a minha mãe concebeu-se no pecado” (Sl. 51,7). Sim, o homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro. Aberto por natureza ao fluxo livre da partilha adverte dentro de si uma força de gravidade estranha que o leva a dobrar-se sobre si mesmo, a afirmar-se acima e contra os outros: é o egoísmo, consequência do pecado original. Adão e Eva, seduzidos pela mentira de Satanás, pegando no fruto misterioso contra a vontade divina, substituíram á lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição; á lógica do receber, da espera confiante do Outro, aquela ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6) experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza.

Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?

Justiça e Sedaqah

No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus que “levanta do pó o indigente (Sl. 113,7) e justiça em relação ao próximo. A própria palavra com a qual em hebraico se indica a virtude da justiça, sedaqah, exprime-o bem. De fato sedaqah significa, dum lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo (cfr Ex 29,12-17), de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e á viúva (cfr Dt 10,18-19). Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, para o israelita nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Não é por acaso que o dom das tábuas da Lei a Moisés, no monte Sinai, se verifica depois da passagem do Mar Vermelho. Isto é, a escuta da Lei , pressupõe a fé no Deus que foi o primeiro a ouvir o lamento do seu povo e desceu para o libertar do poder do Egito (cfr Ex s,8). Deus está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido: pede justiça para o pobre (cfr.Ecli 4,4-5.8-9), o estrangeiro (cfr Ex 22,20), o escravo (cfr Dt 15,12-18). Para entrar na justiça é portanto necessário sair daquela ilusão de auto – suficiência , daquele estado profundo de fecho, que á a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário um “êxodo” mais profundo do que aquele que Deus efetuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, é impotente a realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?

Cristo, justiça de Deus

O anuncio cristão responde positivamente á sede de justiça do homem, como afirma o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “Mas agora, é sem a lei que está manifestada a justiça de Deus… mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os crentes. De fato não há distinção, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, por meio da redenção que se realiza em Jesus Cristo, que Deus apresentou como vitima de propiciação pelo Seu próprio sangue, mediante a fé” (3,21-25). Qual é, portanto a justiça de Cristo? É antes de mais a justiça que vem da graça, onde não é o homem que repara, que cura si mesmo e os outros. O fato de que a “expiação” se verifique no “sangue” de Jesus significa que não são os sacrifícios do homem a libertá-lo do peso das suas culpas, mas o gesto do amor de Deus que se abre até ao extremo, até fazer passar em si “ a maldição” que toca ao homem, para lhe transmitir em troca a “bênção” que toca a Deus (cfr Gal 3,13-14). Mas isto levanta imediatamente uma objeção:

Que justiça existe lá onde o justo morre pelo culpado e o culpado recebe em troca a bênção que toca ao justo? Desta maneira cada um não recebe o contrário do que é “seu”? Na realidade, aqui manifesta-se a justiça divina, profundamente diferente da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante. Perante a justiça da Cruz o homem pode revoltar-se, porque ele põe em evidencia que o homem não é um ser autárquico , mas precisa de um Outro para ser plenamente si mesmo. Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade.
Compreende-se então como a fé não é um fato natural, cômodo, obvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitencia e da Eucaristia. Graças á ação de Cristo, nós podemos entrar na justiça “ maior”, que é aquela do amor ( cfr Rom 13,8-10), a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.
Precisamente fortalecido por esta experiência, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor. Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma culmina no Tríduo Pascal, no qual também este ano celebraremos a justiça divina, que é plenitude de caridade, de dom, de salvação. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autentica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça. Com estes sentimentos, a todos concedo de coração, a Bênção Apostólica”.

Papa Bento XVI




ECONOMIA, FRATERNIDADE E VIDA

Estamos em plena Campanha da Fraternidade. O tema é envolvente e necessário: Economia e Vida.

Nossa relação com o dinheiro é muito desvirtuada. Sobre o mau uso do dinheiro escreveu Shakespeare: “Com ele se torna branco o que é negro; formoso o que é feio; virtuoso o que é mau; jovem o que é velho; valente o que é covarde; nobre o que é ruim. O dinheiro afasta o sacerdote do altar, bendiz o maldito, torna virtude a corrupção, honra o ladrão, conquista pretendentes para a viúva, dá importância e influencia ao avarento, torna a lepra amável.”

A Campanha da Fraternidade de 2010 tem como lema: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (MT 6,24). Estamos saindo da crise econômica mundial, a fome atinge um bilhão de pessoas, as desigualdades sociais aumentam, a corrupção infesta todos os setores da vida inclusive as religiões que se ancoram na teologia da prosperidade e na situação desesperada do povo.

Que o dinheiro é cultuado como divindade é um dado da história da humanidade. Os sistemas econômicos criaram a miséria e a pobreza. Hoje somos reféns da “cultura do consumismo”. Temos crise de alimentação, crise de energia, crise climática e crise financeira. A raiz de tudo isso é o sistema econômico de acumulação do supérfluo, de criação de necessidades desnecessárias, de ganância ilimitada, de máximo lucro.

A CF 2010 coloca o dedo na pior ferida da humanidade porque acredita num novo modelo econômico possível, que esteja a serviço da vida, do bem comum e da sociedade sem exclusões. Jesus advertiu-nos a respeito do acúmulo de tesouros que a traça corroi, o verme estraga e o ladrão rouba. (cf. Mt 6,19)

Se não mudarmos o estilo de vida econômico e financeiro capitalista globalizado, pereceremos pela depredação do meio ambiente, pelo aumento das desigualdades sociais, pelo perigo do armamento e a desgraça das guerras. Por trás de tudo está o dinheiro que cria misérias imerecidas, sacrifica pessoas e erige-se em ídolo perverso. “Não só de pão vive o homem” (Mt 4,4).

A dolorosa realidade dos sobrantes e dos migrantes tem sua explicação no lucro de alguns e na exclusão das massas pobres. As guerras do petróleo e da água são fruto do interesse financeiro. O dinheiro é que comanda estes males, como também, o narcotráfico, o desmatamento, a indústria dos remédios, das bebidas, dos prazeres escravizantes. “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (I Tm 6,10). Se buscássemos a Deus com a mesma garra com que buscamos o dinheiro, o mundo seria diferente.

A economia está a serviço da vida, portanto das necessidades básicas Deus criou os bens para todos. A meta da economia é a felicidade e não a acumulação. Não basta o bem-estar, é preciso estar bem. Um desenvolvimento só econômico, vai privilegiar uns e excluir a maioria. Outra economia é possível. Na lógica capitalista neo-liberal é difícil quem é ganancioso entrar no reino dos céus. Temos, porem, ricos solidários como Zaqueu, José de Arimatéia, Joana, mulher de Cuza, Susana (cf. Lc 8,1).

A solidariedade dos brasileiros e do mundo para com o Haiti, revela a bondade que mora no coração das pessoas e a riqueza da fraternidade solidária. Deus nos livre de sermos possuídos pelo dinheiro e o lucro. A vida humana é o capital mais precioso, no mundo somos uma grande família e por isso a gratuidade, a comunhão, a dádiva, o bem comum são princípios que devem reger o mercado e a economia. O amor, a verdade, a liberdade e a justiça são os alicerces da nova economia.

A grande proposta da CF deste ano é a economia solidária como por exemplo: o Banco do povo, as hortas e padarias comunitárias e tantas outras. A economia solidária é também testemunhada pelo Vaticano que tem assumido a região do Sahel na África, a ajuda à recuperação dos portadores do vírus HIV em nível internacional, as missões, a Amazônia e outras regiões pobres do mundo, incluindo as que são atingidas por intempéries. A riqueza é um bem e um perigo. Despendo do uso que fazemos dela. A Economia está para a pessoa e o bem comum.

Dom Orlando Brandes

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