ECONOMIA, FRATERNIDADE E VIDA

Estamos em plena Campanha da Fraternidade. O tema é envolvente e necessário: Economia e Vida.

Nossa relação com o dinheiro é muito desvirtuada. Sobre o mau uso do dinheiro escreveu Shakespeare: “Com ele se torna branco o que é negro; formoso o que é feio; virtuoso o que é mau; jovem o que é velho; valente o que é covarde; nobre o que é ruim. O dinheiro afasta o sacerdote do altar, bendiz o maldito, torna virtude a corrupção, honra o ladrão, conquista pretendentes para a viúva, dá importância e influencia ao avarento, torna a lepra amável.”

A Campanha da Fraternidade de 2010 tem como lema: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (MT 6,24). Estamos saindo da crise econômica mundial, a fome atinge um bilhão de pessoas, as desigualdades sociais aumentam, a corrupção infesta todos os setores da vida inclusive as religiões que se ancoram na teologia da prosperidade e na situação desesperada do povo.

Que o dinheiro é cultuado como divindade é um dado da história da humanidade. Os sistemas econômicos criaram a miséria e a pobreza. Hoje somos reféns da “cultura do consumismo”. Temos crise de alimentação, crise de energia, crise climática e crise financeira. A raiz de tudo isso é o sistema econômico de acumulação do supérfluo, de criação de necessidades desnecessárias, de ganância ilimitada, de máximo lucro.

A CF 2010 coloca o dedo na pior ferida da humanidade porque acredita num novo modelo econômico possível, que esteja a serviço da vida, do bem comum e da sociedade sem exclusões. Jesus advertiu-nos a respeito do acúmulo de tesouros que a traça corroi, o verme estraga e o ladrão rouba. (cf. Mt 6,19)

Se não mudarmos o estilo de vida econômico e financeiro capitalista globalizado, pereceremos pela depredação do meio ambiente, pelo aumento das desigualdades sociais, pelo perigo do armamento e a desgraça das guerras. Por trás de tudo está o dinheiro que cria misérias imerecidas, sacrifica pessoas e erige-se em ídolo perverso. “Não só de pão vive o homem” (Mt 4,4).

A dolorosa realidade dos sobrantes e dos migrantes tem sua explicação no lucro de alguns e na exclusão das massas pobres. As guerras do petróleo e da água são fruto do interesse financeiro. O dinheiro é que comanda estes males, como também, o narcotráfico, o desmatamento, a indústria dos remédios, das bebidas, dos prazeres escravizantes. “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (I Tm 6,10). Se buscássemos a Deus com a mesma garra com que buscamos o dinheiro, o mundo seria diferente.

A economia está a serviço da vida, portanto das necessidades básicas Deus criou os bens para todos. A meta da economia é a felicidade e não a acumulação. Não basta o bem-estar, é preciso estar bem. Um desenvolvimento só econômico, vai privilegiar uns e excluir a maioria. Outra economia é possível. Na lógica capitalista neo-liberal é difícil quem é ganancioso entrar no reino dos céus. Temos, porem, ricos solidários como Zaqueu, José de Arimatéia, Joana, mulher de Cuza, Susana (cf. Lc 8,1).

A solidariedade dos brasileiros e do mundo para com o Haiti, revela a bondade que mora no coração das pessoas e a riqueza da fraternidade solidária. Deus nos livre de sermos possuídos pelo dinheiro e o lucro. A vida humana é o capital mais precioso, no mundo somos uma grande família e por isso a gratuidade, a comunhão, a dádiva, o bem comum são princípios que devem reger o mercado e a economia. O amor, a verdade, a liberdade e a justiça são os alicerces da nova economia.

A grande proposta da CF deste ano é a economia solidária como por exemplo: o Banco do povo, as hortas e padarias comunitárias e tantas outras. A economia solidária é também testemunhada pelo Vaticano que tem assumido a região do Sahel na África, a ajuda à recuperação dos portadores do vírus HIV em nível internacional, as missões, a Amazônia e outras regiões pobres do mundo, incluindo as que são atingidas por intempéries. A riqueza é um bem e um perigo. Despendo do uso que fazemos dela. A Economia está para a pessoa e o bem comum.

Dom Orlando Brandes

0 comentários:

Postar um comentário

Seguidores